Exatamente dois anos atrás meu telefone tocou e o que ouvi do outro lado era surreal. “Roberta, não sei o que houve, mas alguma coisa deu errado. Não querem me dizer o que é, vem pra cá”.
Tinha chegado ao trabalho havia 2 horas, vinha do hospital, onde passara a noite com meu pai, internado há dois dias. Nos últimos anos era rotina para ele ser hospitalizado, acho que daí veio uma certa antipatia minha por médicos e hospitais, eram personagens e cenários associados a momentos muito difíceis. Aquele final de semana era só mais um.
Quando cheguei naquele lugar, o olhar da minha mãe já dizia tudo: não haveria mais noites em claro nos hospitais, não haveria mais piadas, nem longas conversas, eu não sentaria mais na cabeceira da cama dele para contar como foi meu dia. Era o fim, meu pai tinha morrido. Simples assim, sem avisar, sem dizer nada, sem dar a chance de nos despedir.
Aquela noite que passei em claro com ele foi difícil e me dediquei mais a me incomodar com a impossibilidade de dormir (e o fato de que tinha que trabalhar dia seguinte), porque não sabia que aquelas horas eram as últimas que teria com ele. Se eu soubesse que aquela era a última chance que teria com meu pai, teria sido diferente. Teria, ao invés de pensar no trabalho do dia seguinte, pedido para ele me falar mais sobre a tia Filhinha ou a vó Sebastiana. Teria perguntado para ele como tomou a decisão de mudar com a família para o Iraque ou ainda pediria para ele me contar mais uma das histórias fascinantes sobre a construção da ponte Rio-Niterói. Teria dito o quanto o amava e admirava.
Não tive mais essa chance e isso me faz pensar quantas tantas outras vezes nós estamos diante de uma última oportunidade e não temos a menor idéia. Será que se soubéssemos adiaríamos mais uma vez a visita àquela amiga? Brigaríamos com nosso amor por conta de ciúmes estúpidos ou vaidades? Teríamos mais paciência com nossos pais e entenderíamos que certas atitudes que nos irritam tanto são apenas erros de um ser humano?
Todos os dias estamos nos despedindo um pouco de todos a quem amamos. Mesmo assim, agimos com intolerância com amigos, amores, família e seguimos, achando que sempre haverá uma outra chance, uma nova oportunidade. Só que uma hora o amor se desfaz ante o descaso, a amizade se rompe pela falta de atenção, a vida acaba.
Se soubesse que é sua última chance, o que faria?
Força, Tha, tudo vai dar certo!

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